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Alunos fazem corrente do bem como forma de prevenir e identificar o bullying na escola

O bullying e o ciberbullying está cada dia mais em evidência na nossa sociedade, mesmo que as vezes se dê de maneira velada ou sob a cortina de fumaça de perfis falsos. Por isso, quanto mais conscientizarmos os jovens sobre os perigos, riscos e consequências desta prática, reduziremos situações que podem chegar ao extremo como o suicídio ou explosões de agressividade como já vistos em Realengo no Rio de Janeiro, Goiânia e Suzano em São Paulo.

Por isso, o Colégio Maxi criou a “Corrente do Bem” formada por alunos, denominados “Amigos Anjos” para auxiliar a equipe de orientadores educacionais a identificar práticas que sejam caracterizadas como bullying, mas também observar e acolher outros adolescentes que são vítimas de agressões intencionais verbais, físicas e emocionais, seja ela contínua ou não, que traga dor e sofrimento.

A ação faz parte do programa Rumo Certo, implantado desde 2017 no colégio. Um projeto de formação humana com quatro pilares: saúde, cuidados com o corpo e sexualidade, prevenção ao uso de álcool e outras drogas, e convivência ética. Esta última temática foi inserida este ano na escola e foi  trabalhada durante todo o primeiro bimestre com os jovens adolescentes.

Palestra

Para finalizar os trabalhos do primeiro bimestre, a escola promoveu uma palestra com o promotor de Justiça Miguel Slhessarenko, que falou principalmente sobre as consequências do bullying e o ciberbullying, tanto para o agressor quanto para as vítimas. A intenção foi alertar sobre a seriedade do assunto que muitas vezes é ignorada, considerada apenas como brincadeira.

O foco de tudo isso é sempre a empatia e respeito pelo outro. A diretora de orientação educacional do Colégio Maxi, Jaqueline de Vecchi Seviero, destaca que, primeiramente, é preciso entender que as consequências do bullying são sérias e vão desde um comprometimento no aprendizado, angustia, depressão, ansiedade e até o suicídio. “São muitos os dilemas vividos

por estes jovens e, por isso, estamos buscando juntamente com as famílias, a conscientização dos alunos. Ensiná-los a se colocar no lugar do outro, incentivar o diálogo, entender quando deixa de ser uma brincadeira e mais que isso, mostrar que a prática pode ter consequências sérias, inclusive judiciais”.

Durante a palestra, Miguel Slhessarenko mostrou aos alunos que ao contrário do que se propaga, o agressor, mesmo menor de idade, pode responder criminalmente por seus atos e isto fica registrado em sua ficha e demora muitos anos para ser apagado. No Brasil, acima de 12 anos já responde judicialmente.

 

Além disso, casos de bullying podem levar também as vítimas a terem reações extremas. Para exemplificar, o promotor falou sobre o caso mais recente que ocorreu na Escola Estadual Professor Raul Brasil, em Suzano, na Grande São Paulo, onde jovens invadiram o local armados atirando e ferindo alunos com machado e arco e flecha. O crime resultou na morte de duas funcionárias da unidade e quatro estudantes. Os autores suicidaram após a chegada da polícia.

Para evitar casos como este, a diretora Jaqueline ressalta a prevenção por meio da educação. “Muitas vezes quem sofre o bullying não consegue expressar o que está sentindo e isso pode resultar numa explosão, levando o adolescente a fazer justiça com as próprias mãos. O que temos de promover é a prevenção, pois de nada adiantará instalar detector de metal na porta da escola ou polícia armada, a solução é educar o aluno para questões relacionadas à empatia e respeito. Só assim previne-se situações como esta de Suzano”.

As alunas Ana Clara Rizzieri, 1º ano A, e Millena Fernandes Origuela, 1º ano C, participaram da palestra e para elas, atualmente, as agressões estão mais veladas, tanto por conta das redes sociais, que acabam permitindo as ofensas via perfis falsos, como pela falta de conscientização de que certas atitudes não são brincadeiras, mas sim uma violência. 

Ana Clara pontua também que é preciso chegar à raiz do problema antes que ele se torne algo irreversível como a tragédia em Suzano. Ela conta que se incomoda muito quando vê outro aluno diminuindo um colega e admite que interfere em algumas situações.

Já Millena, que ingressou no Maxi este ano, conta ter sentido na pele as consequências do bullying quando tinha entre 7 e 8 anos em outra escola. Para ela, o problema está tanto nos colegas que ignoram a gravidade das agressões, que podem ir desde uma fofoca maldosa até um empurrão, como também o fato de a coordenação de algumas instituições de ensino preferirem simplesmente não enxergar a existência destas ações dentro da unidade.

Atualmente, ainda em terapia, considera o bullying como algo do passado e superado, apesar de admitir que a timidez ainda é reflexo das agressões sofridas. Porém, se sente muito mais forte e reconhece que hoje a escola lhe dá apoio. Para ela, a discussão sobre este tipo de violência é fundamental para evitar novas vítimas como ela.

“Eu acho que tem mesmo que se falar desta questão psicológica. Eu sofri bullying e sofro até hoje com crises de ansiedades. Sou muito tímida por causa disso. Você esquece de um empurrão, mas a consequência psicológica das fofocas afeta muito mais do que, talvez, uma agressão física. Superei com a terapia, hoje eu estou bem mais ‘de boa’. Grande parte da angustia que eu carregava passou, porque não adianta levar todo esse rancor. Quando a gente deixa de lado vivemos muito melhor”.

Amigos anjos

Julia Fernanda Rodrigues de Oliveira, do 2º C, Isabella Volcov de Campos, 2º C, e Rafaela Olenka Silva Szezupeor dos Santos, 2º E, são chamadas de “Amigos Anjos” e fazem parte da corrente do bem dentro do Colégio Maxi. Elas buscam colocar em prática o que aprendem com as aulas do Programa Rumo Certo como a acolhida aos colegas que ingressam na escola e também a observação atenta ao comportamento emocional dos colegas.

Neste primeiro bimestre, Rafaela contou que assistiram ao filme Ciberbullying que trouxe várias situações comuns nas escolas. Julia relata ainda que a professora Élida procura saber muito sobre o estado emocional dos alunos, mostrar que eles podem contar com uma escuta atenta, um colo ou um ombro.

Dentre os exemplos de bullying mais frequentes identificados pelas “amigas anjo” são a postagem de fotos indevidas nas redes sociais dos jovens em festas ou em situações constrangedoras, que acabam expondo a pessoa. Além da manipulação das imagens e os famosos “memes”. Sempre que identificam estas situações, elas levam até a orientação da escola.

Mas o trabalho da corrente do bem, vai além. Elas começaram a observar mais os colegas e sempre que percebem qualquer mudança no comportamento deles, procuram ajuda-los, sejam num contato direto, seja buscando auxílio junto às orientadoras.

Neste ponto, a diretora de orientação educacional, Jaqueline, faz questão de destacar que as denúncias podem ser feitas de maneira anônima e o colégio preserva o sigilo garantindo a relação de confiança estabelecida até hoje. Ela explica que é comum encontrar, inclusive, bilhetes embaixo da porta de sua sala, do computador ou até meio sobre sua mesa.

“Estamos aqui para fazer este acolhimento. Não oferecemos ajuda profissional, acolhemos e nos reunimos com a família para fazemos os encaminhamentos necessários. Buscamos ajudar, identificar o problema, entender o que está acontecendo e avaliamos qual é a melhor forma de amparar estes alunos, sempre em parceria com a família. Por isso, é muito importante a ação da corrente do bem, porque não conseguimos estar em todos os lugares da escola e eles nos auxiliam a identificar aquilo não somos capazes”, explica.

 

Fonte: Pau e Prosa Comunicação