Um problema bastante atual, a questão fundiária no Norte de Mato Grosso, é o pano de fundo do livro O Fervo da Terra, de Déborah Goldemberg, tema de mais uma edição do projeto Conversa com o Autor, realizada nesta sexta-feira (12) pelo Colégio Maxi. A autora, que é antropóloga, falou aos alunos do 2º Ano sobre a carreira, como foi escrever a obra e sobre outras publicações, já lançadas e em produção.
A professora de Literatura Luciane Beserra, coordenadora da atividade, ressalta a oportunidade de os alunos conversarem pessoalmente com a autora sobre uma obra que leram. O Fervo da Terra, neste caso, se mostra ainda mais interessante por tratar de questões de fronteira no Norte de Mato Grosso e o garimpo em Peixoto de Azevedo, que fazem parte de nossa história.
“Ela fala sobre o encontro dos indígenas com os homens do Sul do país, depois a chegada dos garimpeiros em Peixoto de Azevedo. Foi muito interessante o trabalho, porque conseguimos inclusive tecer um paralelo com o que está acontecendo em Pontes e Lacerda hoje”.
Deborah Goldemberg também comemorou a oportunidade. Para ela, um dos grandes desafios da literatura brasileira é que o autor muitas vezes precisa estar morto para começar a ser valorizado. “Então, é muito especial estar aqui em Mato Grosso, porque vocês estão valorizando autores vivos, que escrevem sobre temas também locais”, enaltece.
Outro fator destacado por ela é a chance de discutir sobre assuntos que continuam muito atuais. “Por traz de tudo está a insegurança fundiária. De quem é a terra? As pessoas continuam se matando porque tem toda uma ausência do estado em determinar exatamente de quem é. Então, acho que tem um sujeito oculto n’O Fervo da Terra que é o estado brasileiro, tanto oculto quanto omisso”, analisa.
Participação
Os alunos participaram ativamente fazendo perguntas que não se relacionaram somente ao tema do livro, mas à carreira de Déborah, o ato de escrever e inspirações. “Às vezes a gente não sabe exatamente o que o autor quer passar, porque a literatura é algo muito subjetivo, cada um tem sua interpretação. Então, quando você tem oportunidade de conversar com ele e entender o que ele estava pensando ao escrever o livro é algo muito bom e inspirador”, avalia Ana Carolina Mikejevs Lorga.
Para Edrick dos Anjos Macedo foi uma ótima iniciativa. “Achei o enfoque do livro dela maravilhoso. O fato de mostrar como que era realmente o dia a dia no garimpo. Era uma luta, uma busca por algo que é incerto. Eu acho que é preciso dar um foco maior às causas indígenas e os movimentos sociais, como a Déborah deu. Faz parte da nossa história”, frisa.
“Eu acho muito interessante poder conversar com o autor sobre a obra porque sempre há interpretações diferentes. Assim podemos entender o que ela quis passar e também mostrar um pouco do que a gente entendeu. Achei o livro interessante, diferente dos livros históricos, porque tem um personagem dentro que mostra certa subjetividade falando da terra e do que aconteceu”, opina a aluna Ana Alice Valinfim.
Fonte: Pau e Prosa Comunicação