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Preservação do patrimônio histórico pauta roda de conversa

Edificações antigas contam a história de uma cidade e de seu povo, sem elas a cultura e a memória regional caem no esquecimento ou se vão com os moradores mais antigos. Para reavivar lembranças de uma Cuiabá que recém completou 300 anos e aguçar a curiosidade dos jovens em conhecer melhor a cidade onde vivem, o Colégio Maxi promoveu uma roda de conversa – “Cuiabá dos meus olhos do passado, presente e futuro”, com personalidades regionais durante a Festa Literária na última quinta-feira (16).

Estiveram presentes na roda de conversa a escritora, professora e especialista em História Regional, Else Cavalcante, o arquiteto e quadrinista – Gabriel Matos e o jornalista e professor universitário, Elias Neto. Dentre os apontamentos feitos pelos convidados, chamou a atenção questões sobre preservação dos monumentos antigos e histórias do centro da capital.

Durante a discussão, o comunicador Elias Neto questionou quem ali presente saberia dizer onde estão localizadas as antigas ruas de Baixo, do Meio e de Cima – o silêncio e olhar de curiosidade pairou sobre os jovens estudantes. Elas são as atuais ruas Galdino Pimentel, Ricardo Franco e Pedro Celestino, situadas no centro histórico da cidade e que ainda mantêm preservadas as características arquitetônicas.

Elias comentou ainda que os moradores de Cuiabá não conhecem a história da cidade e que as futuras gerações correm o risco de também não conhecer. Basta caminhar pelas ruas do centro da cidade para ver o abandono dos casarões tombados, que deveriam estar sendo revitalizados e restaurados.

“Provavelmente as futuras gerações não vão conhecer essas histórias. Quando a gente conhece, valorizamos, e quando não conhecemos desprezamos completamente. Um povo sem raiz é um povo sem cultura e sem identidade”, exclamou.

Grandes casarões antigos do centro de Cuiabá estão abandonados, parte deles desmoronando e histórias sendo soterradas pelos escombros. “Nós percebemos que há hoje um esquecimento da história. A preocupação com o patrimônio histórico surgiu tardiamente, quando parte dos nossos monumentos já tinham sido derrubados devido ao progresso. Quando se fala em preservar essas construções muitos questionam: ‘para que preservar essa coisa velha? Vamos derrubar e fazer algo moderno’. A preocupação em cuidar do patrimônio é uma política que existe desde a década de 40, mas falta a efetividade da fiscalização”, enfatizou.

Else reforçou ainda que atualmente há uma legislação específica de proteção a essas construções históricas, assim como existem leis punitivas. “Muitas vezes um prédio é tombado, mas não há a preocupação da preservação daquele imóvel, manutenção ou zelo. Queremos mostrar para a geração mais nova que a conscientização é necessária para a sociedade como um todo”, completou.

O arquiteto Gabriel Matos, aproveitou o momento para contar uma história sobre a importância da memória histórica da população. Ele relatou que, ao elaborar o projeto de restauração do antigo Arsenal de Guerra – hoje conhecido como Sesc Arsenal, surgiram críticas em torno do assunto.

“Fiz o projeto de reforma original do Arsenal, que antigamente possuía dois andares, sendo que o segundo desabou há muito tempo. Com isso, foi publicado no jornal uma crítica de que estaríamos construindo algo novo. Foi quando moradores antigos da região confirmaram a existência desse andar. Então, essa questão da informação, da memória, é muito importante e deve ser preservada”, disse.

É fato que não se pode ir contra o progresso, mas a perda desta herança histórica representa o esquecimento de parte da identidade cultural de um povo. É preciso reconhecer a importância do patrimônio remanescente, conscientizar a população e cobrar das autoridades a preservação correta daquilo que caracteriza a materialização da cultura e história regional.

A roda de conversa com os profissionais de Cuiabá foi conduzida pelo professor de História do Colégio Maxi, Carlos Eduardo (Carlão), e faz parte das atividades de comemoração aos 300 anos da capital.

 

Fonte: Pau e Prosa Comunicação

Foto: Junior Silgueiro